O mundo viking, repleto de sagas heroicas, batalhas épicas e descobertas territoriais, também abrigava um lado profundamente espiritual, no qual a magia e a profecia desempenhavam papéis centrais.
Dentro dessa cultura, as volvas, ou bruxas, destacavam-se como figuras de grande importância, reverenciadas e temidas por suas habilidades sobrenaturais. Neste artigo, vamos explorar quem eram as volvas, qual era seu papel na sociedade viking, e como sua influência se manifestava tanto em tempos de paz quanto em tempos de guerra.
1. Quem Eram as Volvas?
As volvas eram figuras femininas de grande poder e
influência no mundo nórdico, conhecidas por suas habilidades em magia e
profecia. A palavra "völva" significa "portadora de bastão"
ou "varinha", o que indica um de seus instrumentos mágicos mais
importantes. Elas eram consideradas as intermediárias entre o mundo dos homens
e o mundo dos deuses, com a capacidade de prever o futuro, curar doenças,
lançar feitiços e até mesmo influenciar os eventos naturais e sociais.
Essas mulheres eram geralmente de idade avançada, pois
acreditava-se que a experiência e a sabedoria acumuladas ao longo da vida as
tornavam mais poderosas. Além disso, a völva era uma figura nômade, muitas
vezes vagando de aldeia em aldeia, onde era chamada para realizar rituais e
oferecer suas habilidades a quem precisasse.
2. O Papel das Volvas na Sociedade Viking
Na sociedade viking, as volvas ocupavam uma posição única.
Elas não se enquadravam nos papéis tradicionais de mulheres, como donas de casa
ou esposas, mas eram respeitadas e temidas por seu conhecimento e poder. Sua
influência permeava todos os aspectos da vida viking, desde questões cotidianas
até decisões de grande importância.
a. Profecia e Adivinhação
Um dos papéis mais importantes das volvas era a adivinhação.
Elas eram capazes de prever o futuro, interpretando sinais e comunicando-se com
os deuses e espíritos. A prática de seidr, uma forma de magia ligada à
adivinhação e manipulação do destino, era sua especialidade. Durante rituais,
as volvas entravam em transe para acessar conhecimentos ocultos e fazer
previsões sobre eventos futuros, como colheitas, casamentos, nascimentos e até
mesmo resultados de batalhas.
Essas previsões eram altamente valorizadas pelos vikings,
que acreditavam que o futuro estava predestinado, mas que poderia ser
compreendido e, em alguns casos, influenciado através da magia. As volvas,
portanto, eram consultadas antes de grandes empreitadas, como expedições
militares ou viagens marítimas, para garantir o sucesso.
b. Magia e Rituais
Além da adivinhação, as volvas eram mestres em vários tipos
de magia. Elas realizavam rituais complexos para diversos fins, como proteção,
cura, maldição ou invocação de espíritos. Essas práticas mágicas eram uma parte
integrante da vida viking, e as volvas eram frequentemente chamadas para
intervir em momentos de crise ou necessidade.
Por exemplo, durante períodos de doença ou escassez, as volvas
realizavam rituais para apaziguar os deuses ou afastar espíritos malignos que
poderiam estar causando o mal. Em tempos de guerra, elas lançavam feitiços para
proteger os guerreiros e garantir a vitória. Suas habilidades mágicas eram
consideradas essenciais para o bem-estar da comunidade.
c. Conexão com o Mundo Espiritual
As volvas também eram vistas como mediadoras entre o mundo
dos vivos e o mundo espiritual. Elas tinham a capacidade de se comunicar com os
mortos, bem como com deuses e outros seres sobrenaturais. Isso lhes conferia
uma posição de destaque nas cerimônias religiosas e rituais fúnebres, onde sua
presença era vista como crucial para garantir uma transição adequada para o
além.
Essa conexão com o espiritual também fazia das volvas
conselheiras espirituais para líderes e chefes, que muitas vezes buscavam suas
orientações em assuntos importantes. Sua capacidade de interpretar sinais e presságios
era vital para a tomada de decisões em uma sociedade onde o divino e o mundano
estavam profundamente entrelaçados.
3. As Volvas e o Seidr
O seidr era uma prática mágica estreitamente
associada às volvas. Esta forma de magia era complexa e multifacetada,
envolvendo tanto rituais de adivinhação quanto manipulação do destino e
influências sobre a natureza. O seidr era considerado uma prática
perigosa, tanto para aqueles que a realizavam quanto para aqueles sobre os
quais era realizada, pois mexia com forças que estavam além do controle humano.
O seidr envolvia o uso de encantamentos, feitiços e
rituais para afetar os eventos futuros. As volvas, como praticantes do seidr,
entravam em estados de transe, geralmente induzidos por cânticos ou substâncias
psicotrópicas, para acessar o conhecimento dos deuses e espíritos. Durante
esses estados, elas podiam ver eventos futuros ou influenciar o destino das
pessoas.
É importante notar que o seidr era visto com uma mistura
de respeito e medo. A magia tinha um caráter ambivalente no mundo viking, sendo
tanto uma fonte de poder quanto um potencial perigo. As volvas, portanto, eram
figuras respeitadas, mas também mantidas à distância por aqueles que temiam seu
poder.
4. A Influência das Volvas em Tempos de Guerra
Em tempos de guerra, as volvas desempenhavam papéis
essenciais. Os vikings acreditavam que as batalhas eram influenciadas por
forças sobrenaturais, e as volvas eram chamadas para garantir que essas forças
estivessem a favor dos guerreiros. Elas realizavam rituais para invocar a
proteção dos deuses, fortalecer os guerreiros e enfraquecer os inimigos.
Além disso, as volvas também podiam prever os desfechos das
batalhas. Sua capacidade de adivinhar o futuro era uma ferramenta valiosa para
os líderes vikings, que muitas vezes baseavam suas estratégias militares nas
previsões dessas mulheres. Em algumas sagas, as volvas são descritas como
estando presentes no campo de batalha, onde seus feitiços e profecias eram
usados para garantir a vitória.
No entanto, o poder das volvas também podia ser temido pelos
próprios guerreiros. Havia sempre o risco de que uma völva, se ofendida ou
contrariada, pudesse lançar maldições ou feitiços negativos sobre aqueles que a
desrespeitassem. Essa dualidade de respeito e medo mantinha as volvas em uma
posição de autoridade única dentro da sociedade viking.
5. Volvas na Mitologia Nórdica
A importância das volvas é destacada em várias sagas e
poemas da mitologia nórdica. Uma das mais conhecidas é a Völuspá, uma
das primeiras e mais importantes fontes da literatura nórdica antiga. Neste
poema, uma völva é convocada para contar a história do mundo, desde a sua
criação até a sua destruição durante o Ragnarok.
A völva da Völuspá revela segredos sobre o passado,
presente e futuro, incluindo detalhes sobre os deuses, a criação dos primeiros
seres humanos, e a inevitável destruição e renascimento do mundo. Este papel de
narradora cósmica destaca a importância das volvas como detentoras do
conhecimento sagrado e da história do universo.
Outra figura significativa é a völva chamada Heiðr, que
aparece em várias sagas e é descrita como uma profetisa itinerante. Heiðr é
consultada por líderes e reis, e suas profecias são sempre respeitadas, mesmo
quando predizem desgraças inevitáveis. A presença dessas figuras na mitologia
sublinha o respeito e a reverência que os vikings tinham pelas volvas e suas
habilidades.
6. A Volva como Símbolo de Poder Feminino
As volvas também representam uma das expressões mais
marcantes do poder feminino na sociedade viking. Em uma cultura
predominantemente patriarcal, onde os homens ocupavam os papéis de guerreiros e
líderes, as volvas eram exceções notáveis. Elas detinham um tipo de poder que
era inacessível aos homens, e sua autoridade em questões espirituais e mágicas
era incontestável.
Além disso, as volvas tinham uma independência que era rara
para as mulheres na sociedade viking. Elas podiam viajar sozinhas, recusar a hospitalidade
de reis e chefes, e eram frequentemente recompensadas generosamente por seus
serviços. Esse poder e independência tornavam as völva figuras complexas e, em
muitos casos, admiradas.
7. O Declínio das Volvas
Com o advento do cristianismo na Escandinávia, o papel das volvas
começou a declinar. A nova religião via a magia e a adivinhação com
desconfiança, e as práticas pagãs foram gradualmente suprimidas. As volvas, que
representavam a antiga fé e seus mistérios, passaram a ser vistas como hereges e
bruxas, sendo perseguidas pelas autoridades cristãs.
No entanto, mesmo com o declínio de seu papel tradicional, a
memória das volvas perdurou na cultura nórdica. Elas continuaram a ser figuras
de fascínio e mistério, representando uma conexão com um passado rico em
espiritualidade e magia.
Conclusão
As volvas desempenharam um papel crucial no mundo viking,
sendo reverenciadas como portadoras de conhecimento sagrado, profetisas e
praticantes de magia. Sua influência se estendia por toda a sociedade, desde os
camponeses até os reis, e seu poder era tanto respeitado quanto temido. Elas
simbolizam um aspecto único do poder feminino em uma cultura dominada por
homens, e sua presença na mitologia nórdica sublinha a importância da
espiritualidade e da magia na vida dos vikings.
Embora o cristianismo tenha eventualmente suprimido seu
papel, as volvas permanecem como figuras icônicas da era viking, lembradas por
sua sabedoria, poder e conexão com o mundo dos deuses e espíritos. Hoje, elas
continuam a fascinar e inspirar, representando um elo com um passado onde o
misticismo e a magia eram partes integrantes da vida cotidiana.