O Antigo Egito é uma civilização fascinante que floresceu ao longo do rio Nilo por mais de três mil anos. A mitologia egípcia é rica em histórias que explicam a criação do mundo, a vida após a morte e as façanhas dos deuses e heróis.
Esses mitos e lendas não só refletiam as crenças espirituais dos egípcios, mas também influenciavam todos os aspectos da sua vida cotidiana, desde a governança até as práticas funerárias. Neste artigo, exploraremos alguns dos mitos e lendas mais emblemáticos do Egito Antigo, destacando seus temas centrais e personagens principais.
A Criação do Mundo
O Mito de Atum
No início, havia apenas o caos primordial, chamado Nun, uma
extensão infinita de águas sem forma. A partir desse caos emergiu Atum, o deus
criador, que se autocriou, elevando-se a partir das águas. Atum estava sozinho
e, para criar companhia, ele gerou os primeiros deuses, Shu, o deus do ar, e Tefnut,
a deusa da umidade, a partir de si mesmo. Shu e Tefnut, por sua vez, deram à
luz Geb,
o deus da terra, e Nut, a deusa do céu. Esses quatro deuses formaram a base do
universo, com Geb e Nut formando a terra e o céu e Shu sustentando Nut para que
ela não caísse sobre Geb.
A Enéade de Heliópolis
A partir de Geb e Nut, nasceram quatro filhos: Osíris,
Ísis,
Set
e Néftis.
Esses deuses formaram a Enéade, um grupo de nove divindades reverenciadas na
cidade de Heliópolis. Osíris tornou-se o deus da vegetação e da vida após a
morte, Ísis, sua esposa e irmã, a deusa da magia e maternidade, Set, o deus do
caos e destruição, e Néftis, a deusa das lamentações e guardiã dos mortos.
Esses deuses desempenham papéis centrais em muitos mitos egípcios,
particularmente na história de Osíris.
O Mito de Osíris e Ísis
A Tragédia de Osíris
Osíris era um rei justo e amado, que trouxe civilização e
prosperidade ao Egito. No entanto, seu irmão Set, invejoso e ambicioso, tramou
sua queda. Set enganou Osíris, aprisionando-o em um caixão e jogando-o no rio
Nilo, onde ele se afogou. Ísis, sua devota esposa, procurou incansavelmente
pelo corpo de Osíris, finalmente encontrando-o e trazendo-o de volta à vida
usando sua poderosa magia. No entanto, Set encontrou o corpo revivido e o
desmembrou em quatorze pedaços, espalhando-os por todo o Egito.
A Busca de Ísis
Determinado a restaurar Osíris, Ísis iniciou uma jornada
árdua para recuperar todas as partes de seu corpo. Com a ajuda de sua irmã
Néftis e o deus
Anúbis, ela conseguiu encontrar todos os pedaços, exceto um. Usando suas
habilidades mágicas, Ísis reconstituiu o corpo de Osíris e o ressuscitou, mas
ele não poderia mais reinar no mundo dos vivos. Em vez disso, Osíris tornou-se
o governante
do submundo, julgando as almas dos mortos e garantindo-lhes a vida eterna
se fossem dignas.
O Nascimento de Hórus
Antes de Osíris descer ao submundo, Ísis conseguiu conceber
um filho, Hórus,
que seria o herdeiro legítimo de Osíris. Hórus cresceu em segredo, protegido
por sua mãe e por Néftis, até que estivesse forte o suficiente para desafiar
Set pelo trono do Egito. A batalha entre Hórus e Set é um tema recorrente na
mitologia egípcia, simbolizando a luta entre a ordem e o caos, a justiça e a
injustiça.
O Julgamento das Almas
O Livro dos Mortos
A vida após a morte era uma preocupação central para os
egípcios, e muitos mitos descrevem o que acontece com a alma após a morte. O "Livro
dos Mortos" é uma coleção de feitiços, orações e hinos que guiavam a alma
na jornada pelo submundo. Para os antigos egípcios, a morte não era o fim, mas
uma transição para outra forma de existência. A alma do falecido deveria passar
por vários desafios e provações antes de alcançar a vida eterna.
A Pesagem do Coração
Um dos aspectos mais importantes do julgamento das almas era
a pesagem do coração. Após a morte, a alma do falecido era conduzida ao salão
de Maat, a deusa da verdade e justiça. Lá, seu coração era colocado em uma
balança e comparado com a pena de Maat. Se o coração fosse mais leve ou igual à
pena, a alma era considerada pura e digna de entrar no campo de juncos, um
paraíso eterno. Se o coração fosse mais pesado, ele era devorado por Ammit, um
demônio com cabeça de crocodilo, torso de leão e traseiro de hipopótamo,
condenando a alma ao esquecimento eterno.
Os Deuses e Suas Aventuras
Rá, o Deus Sol
Rá
era uma das divindades mais importantes do panteão egípcio, reverenciado como o
deus do sol e o criador do mundo. Todos os dias, Rá viajava pelo céu em sua
barca solar, trazendo luz e calor ao mundo. À noite, ele descia ao submundo,
onde enfrentava diversas ameaças, incluindo a serpente Apófis, que tentava
devorar a barca e impedir o amanhecer. A batalha diária de Rá contra Apófis
simbolizava a luta contínua entre a ordem e o caos, a luz e a escuridão.
A Ira de Rá e a Deusa Sekhmet
Em um mito famoso, Rá, zangado com a humanidade por sua
desobediência e irreverência, enviou sua filha, a deusa leoa Sekhmet,
para punir os mortais. Sekhmet desceu à terra e começou a devastar a humanidade
com sua fúria incontrolável. Para detê-la, Rá enganou Sekhmet, fazendo-a beber
uma grande quantidade de cerveja tingida de vermelho para parecer sangue.
Sekhmet, embriagada, adormeceu, e assim a humanidade foi salva de sua
destruição total.
A História de Ísis e os Sete Escorpiões
Ísis é uma deusa que desempenha muitos papéis na mitologia
egípcia, incluindo o de uma protetora poderosa e mãe devotada. Em um mito,
enquanto fugia de Set e tentando proteger seu filho Hórus, Ísis foi auxiliada
por sete escorpiões que a acompanharam em sua jornada. Quando uma mulher rica
se recusou a ajudar Ísis, os escorpiões vingaram a deusa picando o filho da
mulher. No entanto, Ísis, mostrando sua compaixão e poder, curou o menino,
demonstrando tanto sua capacidade de destruir quanto de curar.
A Cosmologia e os Temas Recorrentes
Dualidade e Harmonia
Os mitos egípcios frequentemente exploram temas de dualidade
e harmonia. Deuses
e deusas representavam forças opostas, como vida e morte, ordem e caos,
criação e destruição. Essas forças não eram vistas como inimigas, mas como
complementares, essenciais para manter o equilíbrio do universo. A luta entre
Hórus e Set, por exemplo, não era apenas um conflito de poder, mas uma
representação da necessidade de equilíbrio entre forças opostas.
A Eternidade e a Renovação
A crença na vida após a morte e na renovação eterna é um
tema central na mitologia egípcia. Os egípcios acreditavam que a morte era uma
passagem para uma nova forma de existência, onde a alma poderia alcançar a
imortalidade se seguisse os rituais e práticas corretas. A ressurreição de
Osíris e sua transformação no senhor do submundo simbolizavam essa crença na
renovação contínua e na possibilidade de vida eterna.
Conclusão
Os mitos e lendas do Egito Antigo oferecem uma visão profunda das crenças, valores e visões de mundo dessa antiga civilização. Eles não apenas explicavam os fenômenos naturais e os mistérios da vida e da morte, mas também guiavam as práticas religiosas e culturais dos egípcios.
Ao explorar
essas histórias, ganhamos uma apreciação mais profunda da riqueza e
complexidade da mitologia egípcia, bem como de sua influência duradoura na
cultura e no pensamento humano.