Originada na África Ocidental, a fé iorubá é uma religião que combina crenças animistas e monoteístas. Essa religião é amplamente praticada na atual Nigéria, Benin e Togo, e também influenciou várias religiões derivadas nas Américas e no Caribe.
Dada a extensão da esfera de influência da religião iorubá, suas características simbólicas e cerimoniais estão se tornando cada vez mais populares. Aqui estão os símbolos, rituais e cerimônias iorubás mais populares.
Recebendo a Mão de Orula (Cerimônia)
Tradicionalmente, receber a Mão de Orula ou Orunmila é a
primeira cerimônia de iniciação na religião iorubá. Orula (também conhecido
como Orunmila) é o deus do conhecimento e da adivinhação do panteão iorubá. Ele
também é considerado como a personificação do destino.
Durante esta cerimônia, um sacerdote usa a adivinhação para
revelar à pessoa que está sendo iniciada qual é o seu destino na Terra; a noção
de que todos nascem com um conjunto de objetivos, às vezes até carregados de
vidas passadas, é uma das crenças fundamentais dessa religião.
Ao longo desse processo, o candidato à iniciação também
aprende quem é seu orixá tutelar. Feita essa cerimônia, o iniciado pode começar
a usar a pulseira de contas verdes e amarelas, símbolo da proteção que Orula
mantém sobre os praticantes iorubás.
Em Cuba, o ato de receber a mão de Orula é chamado de
‘Awofaka’, se a pessoa que passa pela iniciação for homem, e ‘Ikofa’, se for
mulher. Em ambos os casos, esta cerimônia dura três dias.
Recebimento Dos Colares (Cerimônia)
Receber os Colares, ou elekes, está entre as cerimônias
básicas de iniciação da religião Lukumi ou lucumi , uma fé cubana de base
iorubá.
Esses colares são cinco colares de contas, cada um dos quais
é consagrado a um grande orixá (alto espírito ou divindade) do panteão iorubá: Obatalá,
Yemanjá, Eleguá, Oxum
e Xangô. Com exceção de Xangô,
que é considerado um ancestral divinizado, todos os outros orixás são vistos
como divindades primordiais.
Antes que uma pessoa possa passar pela cerimônia que lhe
permitiria usar os colares, primeiro é necessário que um sacerdote consulte os
deuses, por meio de adivinhação, se o candidato está pronto para ser iniciado.
Uma vez concedida a permissão pelos orixás, inicia-se a confecção dos colares.
Como esses colares são recipientes de axé (a energia divina
que reside em todas as coisas, segundo a religião iorubá), somente os
sacerdotes Babalaô, também mencionado como Babalawos podem montar e entregar os
elekes. A confecção destes colares consiste na recolha das contas, que são
escolhidas de acordo com as cores associadas a cada uma das referidas
divindades.
Uma vez que as contas são selecionadas, o sacerdote passa a
montá-las usando um fio de algodão ou nylon. Em seguida, o colar é lavado com
essências aromáticas, infusões de ervas e o sangue de pelo menos um animal sacrificado.
O último elemento é aquele que transmite o axé ao colar.
Na última parte da cerimônia de iniciação, o corpo da pessoa
que está sendo iniciada é purificado antes de receber seus colares. Aqueles que
completaram esta cerimônia de iniciação são conhecidos como aleyos.
A Lavagem da Escada do Bonfim (Ritual)
A lavagem da escada do Bonfim é um ritual de purificação
praticado dentro do candomblé brasileiro que leva o mesmo nome. Celebrada na
segunda quinta-feira de janeiro, na cidade de Salvador (capital do estado
brasileiro da Bahia), esta festa reúne centenas de praticantes de Candomblé e
turistas de diversas partes do mundo.
Durante a primeira parte desta cerimónia, os presentes
reúnem-se na Igreja da Conceição da Praia, para participar numa procissão de 8
quilómetros que termina quando a multidão chega à Igreja do Nosso Senhor do
Bonfim.
Chegando lá, as baianas, um grupo de sacerdotisas
brasileiras vestidas apenas de branco (cor de Obatalá,
o deus iorubá da pureza) começam a lavar as escadas da igreja. Por meio
desse ato, as baianas reencenam a lavagem desse templo feita por escravos
africanos, na época colonial, durante os preparativos para a celebração do Dia
da Epifania.
Durante esse ritual de purificação, muitas pessoas também
recebem as bênçãos das baianas.
Nosso Senhor do Bonfim é o epíteto atribuído a Jesus Cristo
entre os brasileiros. No entanto, no Candomblé, a figura de Jesus foi
sincretizada com a do orixá Obatalá. É a esta divindade que se consagra o
ritual de purificação praticado neste dia.
Gêmeos (símbolo)
Na religião iorubá, existem várias crenças associadas aos
gêmeos.
Normalmente chamados de Ibeji, em homenagem aos deuses
gêmeos do panteão iorubá, os gêmeos tendem a ser considerados um símbolo de boa
sorte. No entanto, nem sempre foi esse o caso, pois nos tempos antigos, os
iorubás costumavam pensar que gêmeos nasciam com poderes sobrenaturais e,
portanto, poderiam se tornar uma ameaça para suas comunidades.
Hoje em dia, se um dos gêmeos morre, isso é considerado um
sinal de infortúnio para a família ou a comunidade à qual o falecido pertencia.
Portanto, para jogar fora toda a má sorte, os pais do gêmeo morto encomendavam
um babalaô com a escultura de uma escultura de Ibeji. Honras e oferendas devem
ser prometidas a este ídolo.
Recepção Dos Guerreiros (Cerimônia)
Esta cerimônia geralmente é realizada em paralelo ou logo
após receber a mão de Orula. Receber os deuses guerreiros do panteão iorubá
significa que essas divindades vão guiar e proteger o iniciado a partir de
então em sua vida.
No início desta cerimônia, um babalaô (que também é o
padrinho da pessoa que está sendo iniciada) tem que aprender o caminho de cada
deus guerreiro. Isso significa que o sacerdote determina, por meio de
adivinhação, quais características das personificações dos deuses devem ser entregues
ao iniciado. O caráter desses ‘avatares’ variaria dependendo de fatores
associados à identidade espiritual e à personalidade do iniciado.
Os orixás guerreiros são dados nesta ordem: primeiro Eleguá,
depois Ogum, Oxóssi e Osun.
Eleguá,
geralmente referido como o 'malandro', é o deus dos começos e finais. Ele
também está associado aos meios de comunicação, pois é o mensageiro de Olodumarê,
o supremo deus iorubá. Ogum é o bem dos metais, da guerra, do trabalho e das
ciências. Oxóssi é o deus da caça, justiça, habilidade e inteligência. Osun é a
guardiã das cabeças de cada crente iorubá e a divindade da estabilidade
espiritual.
Entre os elementos que devem ser trazidos para esta
cerimônia estão uma pedra de Otá ou ocutá (item que simboliza a essência divina
dos orixás), pó de Orula, velas, omieró (líquido purificador feito com ervas
curativas), aguardente, animais de sacrifício, o receptáculo dos orixás, e seus
objetos simbólicos.
Eleguá é dado na forma de uma cabeça oca de cimento, cuja
boca, olhos e nariz são feitos de cauris. Ogum é representado por seus sete
utensílios de metal e Oxóssi por sua besta de metal. Os objetos dos dois
últimos deuses devem ser guardados em um caldeirão preto. Por fim, Osun é
representado por uma estatueta de galo em cima da tampa de um copo de metal.
Durante a cerimônia de recepção dos quatro orixás
guerreiros, os objetos simbólicos de cada orixá devem ser lavados
ritualisticamente com Omieró. Depois, um sacrifício animal deve ser oferecido a
cada deus guerreiro: um galo para Eleguá e pombos para cada um para Ogum,
Oxóssi e Osun. Outras práticas cerimoniais secretas também podem ser
realizadas, mas só são reveladas ao iniciado.
Por fim, o ponto alto da cerimônia é quando a pessoa a quem
serão entregues os guerreiros se ajoelha diante de seu padrinho, enquanto este
derrama água sobre a cabeça do iniciado e recita uma oração, na língua
tradicional iorubá. Depois disso, o iniciado se levanta para finalmente receber
os guerreiros de seu padrinho.
Opon Ifá & Nozes de Palmeira (Símbolos)
Um Opon Ifá é uma bandeja de adivinhação usada na religião
iorubá para práticas divinatórias. Como símbolo, o Opon Ifá está associado à
sabedoria de Orula.
Orula é o deus do conhecimento e da adivinhação; alguns
estudiosos até consideraram a palavra 'Ifá' como um dos apelativos dados a
Orula em Iorubalândia nos tempos antigos. No entanto, hoje em dia, este termo
está mais diretamente ligado ao principal sistema de adivinhação iorubá.
A adivinhação é um dos preceitos fundamentais da religião
iorubá. É praticada pelos babalaôs, que, após serem iniciados, recebem um pote
contendo vários itens rituais, entre os quais um conjunto de nozes de palmeira
ou dendê. Consagrado a Orula, acredita-se que essas nozes de palmeira sejam a
personificação do deus.
Durante uma cerimônia de adivinhação, um babalaô lança as
nozes de palmeira sobre o Opon Ifá e, em seguida, aconselha o consulente, com
base na combinação formada pelas nozes consagradas. No sistema Ifá, existem
pelo menos 256 combinações possíveis, e espera-se que o babalaô tenha
memorizado todas elas quando começar a praticar a adivinhação.
Tambores Batá (Símbolo)
O batá é parte fundamental dos rituais de adivinhação
associados às posses do corpo de um praticante Lukumi pelo espírito de um
orixá.
Segundo a tradição oral, o uso de tambores nas celebrações
religiosas iorubás remonta ao século XV, quando o primeiro baterista, chamado
Ayan Agalu, foi apresentado à corte do rei Xangô, localizada na mítica cidade
de Ile-Ife.
Mais tarde, o próprio Ayan Agalu foi divinizado e ficou
conhecido como ‘Añá’, a divindade que zela por todos os bateristas e facilita a
comunicação entre deuses e mortais. Atualmente, acredita-se que os tambores
batá sejam um símbolo desse orixá, pois são vistos como as embarcações que
transportam o Añá.
Vale ressaltar que na religião iorubá, os praticantes
acreditam que a maioria dos orixás possui ritmos específicos de percussão, além
de canções e danças, que podem ser utilizadas para estabelecer comunicação com
eles.
Período de Luto de Nove Dias (cerimônia)
Na religião iorubá e em todas as suas crenças derivadas, os
praticantes passam por um período de luto de nove dias após a morte de um
membro de sua comunidade. Durante este tempo, canções, orações e outros sinais
de respeito são oferecidos ao falecido.
Conclusão
Apesar de ter se originado na África Ocidental, o tráfico
transatlântico de escravos que ocorreu durante a Era Colonial disseminou a
religião iorubá nas Américas e no Caribe. Isso contribuiu para a evolução de
diferentes tipos de símbolos, rituais e cerimônias iorubás.
No entanto, permeando todos os três elementos mencionados da
religião iorubá, está a crença de que existe um grupo de deuses (os orixás) que
podem potencialmente intervir em benefício dos humanos.